A seca que castiga a Bahia – considerada a mais rigorosa dos últimos 50 anos – está arrasando com plantações e com a pecuária. Apenas para se ter uma ideia, nos municípios do semiárido baiano o rebanho bovino foi reduzido pela metade, segundo levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb).
“Os proprietários venderam parte do rebanho para outras regiões produtoras ou viram o gado morrer”, conta o diretor de desenvolvimento agropecuário da Faeb, Humberto Miranda. A Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) estima a perda de 600 mil animais. A Faeb calcula em um milhão.
O cenário não é melhor para os caprinos: os municípios mantêm apenas 60% do rebanho original. Já a agricultura de sequeiro – milho, feijão e mandioca – teve perda de 100% na safra de 2012-2013.
Ao todo são 214 municípios em situação de emergência na Bahia, concentrados nas microrregiões de Irecê, Jacobina, Senhor do Bonfim, Conceição do Coité e Itaberaba.
Diante da gravidade da situação, a Faeb publicou uma nota ontem convocando produtores e sindicatos rurais para uma reunião na próxima terça-feira, na sede da entidade, no Comércio.
“A situação esperada para 2013, caso não ocorra o milagre das chuvas até início de abril, é que a estiagem vai ser muitas vezes pior do que a 2012?, diz a nota da Faeb.
Pressão – Segundo o presidente da Faeb, José Martins, a nota é uma forma de pressionar os governos. “Nós somos a caixa de ressonância dos produtores e proprietários rurais. O governo pouco fez para que a população rural possa continuar produzindo no semiárido”, disse
O secretário da Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, rebateu as críticas de João Martins. De acordo com Salles, o governo está agindo com medidas estruturais e emergenciais para seca.
“Reserva alimentar e água para dessedentação animal são dois pilares das ações do governo. Desde 2012, sete milhões de mudas de palma estão sendo plantadas em 1,5 mil unidades técnicas no semiárido”, diz Salles.
Entre as medidas estruturais do governo estadual estão a construção de adutoras, como a de Pedras Altas, inaugurada em janeiro deste ano, no município de Capim Grosso, na região sisaleira, além da construção das adutoras do Algodão e de Irecê.
Os efeitos da seca vão além da perda do plantio e dos animais. A Faeb diz que a falta de dinheiro da produção gerou inadimplência.
Para tentar reverter a situação, as Federações de Agricultura dos Estados do Nordeste estão elaborando um documento para enviar à Presidência da República com o pedido de renegociação das dívidas dos produtores.
Outro desafio dos produtores e prefeituras é driblar a burocracia dos programas governamentais e se adequar às normas para receber recursos do governo.
“Há produtor que está esperando o crédito há quatro meses. Depois desse tempo, ele não precisa mais do dinheiro porque o gado morreu”, diz Humberto Costa.
O prefeito de Conceição do Coité (a 210 km de Salvador), Francisco de Assis, diz que recursos como a Garantia Safra e a Bolsa Estiagem, do governo federal, estão chegando, mas em velocidade insatisfatória. “Há muitas promessas de apoio, mas a burocracia atrapalha”, reclama.
Fonte: ATarde