As investigações do Ministério Público de Eunápolis, com apoio das polícias Civil e Militar, apontaram que o diretor-adjunto do presídio do município, Jabes Santana, 38 anos, vinha liderando desde a inauguração do presídio, há quase um ano, uma quadrilha composta por agentes penitenciários envolvidos em uma série de crimes, como tráfico de droga, associação para o tráfico, assassinato e prevaricação – pois era permitida a entrada de celulares na carceragem.
Tudo isso, segundo o promotor João Alves Neto, acontecia dentro do conjunto penal. Havia até uma tabela de preços para facilitar a entrada de objetos ilícitos nas celas. Segundo o promotor, eram cobrados R$ 1.500 para celular e R$ 2 mil para um quilo de maconha. Somente este ano, apontam dados preliminares, foram apreendidos 60 celulares dentro do presídio.
Conforme o promotor, desde o começo da investigações, no ano passado, o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia, Nestor Duarte Neto, tomou conhecimento das denúncias, mas preferiu manter Jabes no cargo, que é comissionado. Os agentes penitenciários são ligados à empresa Reviver, terceirizada que administra o presídio.
As denúncias do Ministério Público resultaram nas prisões de Jabes e mais oito agentes do presídio, na tarde de terça-feira 24 de setembro. Jabes já vinha sendo investigado desde 2011, quando era diretor do presídio de Teixeira de Freitas.
As investigações apontam que em Teixeira de Freitas Jabes também facilitava a entrada de celulares, drogas e até tinha participação direta em mortes de detentos determinadas por quadrilhas rivais. Os homicídios, frisa o promotor, eram ‘mascarados’.
Buscas eram comunicadas a detentos
Com a chegada de Jabes para dirigir o presídio de Eunápolis, o Ministério Público ficou em alerta – pois sabia que os crimes poderiam continuar por aqui.
Por causa das inúmeras denúncias de detentos usando celular, armas e drogas, o juiz da Vara Crime e Execuções Penais, Otaviano Andrade Sobrinho, expediu mandados de busca e apreensão.
Mas, conforme o promotor, Jabes dificultou as apreensões, burocratizando a entrada dos policiais.
Conforme consta na denúncia, o diretor chegou a ligar para os presidiários avisando que haveria revista e orientando os detentos a esconderem o material.
‘Capa Preta’ e o ‘Da Casa’
O promotor frisa que, em ligações telefônicas interceptadas com autorização judicial, ficou constatado que os presos faziam referência ao diretor como o ‘Da Casa’ e ao juiz como o ‘Capa Preta’.
‘Os presos diziam que o ‘Da Casa’, que seria o Jabes, teria ligado avisando que o ‘Capa Preta’, no caso o juiz Otaviano, tinha expedido mandado de busca e apreensão e que as celas seriam vistoriadas. A diligência acabou frustrada. Só conseguimos pegar pouca coisa. Porque, além de segurar os agentes, oportunizava os comparsas a esconderem os objetos’, denuncia João Alves.
R$ 50 mil para facilitar morte de ‘Dada’
Em 2012, em depoimento ao delegado Evy Paternostro, o traficante Edinaldo Pereira Souza, o Dada’, afirmou que Jabes teria recebido R$ 50 mil para facilitar a sua morte por um grupo rival, em Teixeira de Freitas.
O depoimento serviu de base para o juiz Otaviano enviar um ofício para o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Nestor Duarte Neto, mostrando que havia corrupção e indícios de homicídio que estavam sendo realizados com a participação de Jabes. O promotor declara que o secretário Nestor não tomou nenhuma providência.
‘Ao contrário, o criminoso-mor, o chefão da associação criminosa, ficou foi mais fortalecido, porque com estas denúncias poderia retirá-lo do cargo de confiança, mas foi deixado para continuar com a patifaria lá dentro, com toda esta onda de crime’, disse.
‘Então, é interessante saber o que o secretario e a secretaria vêm fazendo em prol da coletividade?. Imagine uma organização criminosa trabalhando dentro de um presídio, expondo toda a sociedade local, a ordem jurídica e ameaçando de morte os presos…’, complementa o promotor João Alves.
Enviado para o ‘corredor da morte’
Uma das mortes que ocorreram no presídio de Eunápolis e que é investigada é a do traficante Cléberson Cerqueira, em julho desde ano.
Para o promotor, o crime foi encomendado por Romario de Oliveira Brito, ‘O Romarinho’, que liderava o tráfico de drogas em Arraial d’Ajuda e que seria rival de Cléberson.
‘Três detentos teriam executado Cléberson com o auxílio de Jabes, que teria levado esse preso de uma ala para outra onde estavam os executores – o corredor da morte’, declarou João Alves.
Negociava com famílias de detentos
O promotor falou que nos casos mais complexos o diretor Jabes entrava em contato com as famílias dos detentos fazendo cobranças e estabelecendo como se daria a entrada dos objetos.
‘As vezes, [os objetos] vinham através de membros da família, que eram repassados por eles [os agentes]. Outras vezes eram jogados pela tela de proteção do pátio. O agente penitenciário pegava e fazia a entrada por meio de outro preso, que leva os celulares e as drogas no ânus’.
Detento teve medo de ser envenenado
O promotor lembra que quando ficou sabendo que um dos presos ligou de dentro do presídio para a Polícia Militar denunciando o esquema criminoso, Jabes ficou desesperado e teria passado uma mensagem de texto para ‘Romarinho’, que está custodiado na unidade prisional, dizendo que preso que fez a denúncia deveria ser morto.
‘O preso disse que nem estava comendo, com medo de ser envenenado. E que pegava um pouco de comida de outros presos’.
Além de Jabes, foram presos os agentes Ezequiel da Silva Barreto, 30 anos, Ingride Souza Bandeira, 23, Alã Sandro Farias Bastos, 33, José Augusto Lima Pereira, 38, Geilson de Moura Santos, 36, Josemário Reis Novais, 39, Milton Jackson Araújo Silva, 23, e Aderlan Oliveira Santos, 28.
As investigações vão continuar e outras pessoas suspeitas ainda podem ser presas.
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Fonte: Sul Bahia News