APOLOGIA DA SOCIEDADE DOS URUBUS

rm veiculos
garra de aguia
Porque o povo se entrega tão fácil e por tão pouco? A pergunta é daquelas de tirar o sono. Pelas pessoas que lutam pela justiça, que não engolem tamanha corrupção, por todos aqueles e aquelas que buscam a realização de um mundo mais justo e mais fraterno, não dá pra entender o porque do comportamento do povo, que entrega as prefeituras do Nordeste a um bando de incompetentes e sem vergonha, que saqueiam o cofre publico com a maior cara de pau, beneficiando a si mesmo e os próprios familiares, não se importando do sofrimento do povo. Pesquisando nas cidades deste Nordeste Baiano, tão massacrado e humilhado por uma manada de políticos corruptos e sem escrúpulo, percebe-se que é raro encontrar um município dirigido por pessoas competentes e que trabalham para servir o povo e não para encher o próprio bolso. É raro, mas tem políticos honestos e competentes que visam o bem do povo e, por isso, tem chance de perder as eleições. Parece brincadeira, mas é assim mesmo. De fato, o povo não está nem aí dos projetos políticos, das grandes ideologias: o povo quer se divertir!
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 De um lado, então, temos todo um povo que não pensa dois minutos para vender o próprio voto ao primeiro oferente, do outro temos toda uma turma esquisita de políticos (?) que não têm receio nenhum a comprar o voto do povo pra depois fazer o que quiser com o dinheiro publico. A pergunta simples é esta: porque? Porque o povo não pensa às conseqüências da própria entrega aos corruptos? Porque o povo fica satisfeito por um brinde que não dura três dias, passando depois necessidade pelo resto dos quatro anos? Porque o povo acha legal ganhar uma mixaria entregando na bandeja o Município a um bando de corruptos? De fato, aquilo que assistimos neste ano de eleições é uma verdadeira loucura. É festa pra lá, churrasco pra cá, argolinha, jogo de bola, ou seja, toda uma serie de atividade que, de certa forma, não tem nada a ver com a política. O objetivo claríssimo é juntar gente naquilo que o povo mais gosta, ou seja, uma festa com muita cerveja e cachaça, e ali esbanjar sorrisos, fazer uma media com um povo alienado, acostumado a viver das migalhas que o poder espertamente aprendeu a distribuir nas horas certas. E ali vai se perpetuando todo um costume, todo um estilo de vida que deixa todo um povo com o gostinho na boca de algo de bom, mas que depois, acordando na segunda feira, percebe que de bom tem somente a lembrança daquilo que foi. Se esta é política eu sou Papai Noel!
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A pergunta nessa altura é esta: como é possível passar a vida toda mergulhados neste nada? Como é possível não enxergar o engano que está por trás da palhaçada das eleições? Paciência ser enganado uma vez, mas como é possível que o povo se deixe enganar sempre e, sobretudo, com alegria, como se fosse algo de legal? Como é possível não enxergar que atrás do candidato da vez, está escondido um lobo, que está visando nada mais que o cofre publico e cujo pensamento é saber o quanto poderá botar no seu bolso com a aprovação do povo? Como é possível depois de tantas décadas, não entender que atrás das inaugurações realizadas nos últimos meses antes das eleições, existe todo um projeto, existe todo um esquema, existe todo um pensamento negativo que visa botar fumaça nos olhos do povo, para que não lembre nada, para que não recorde o nada que foi realizado nos anos anteriores?
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É todo um sistema podre se perpetuando no tempo, com pobres acostumados a cobrar aos políticos migalhas para sobreviver e festas para esquecer a sensação péssima de não ser nada e, do outro lado, pessoas sem escrúpulos, que exigem e adoram de serem chamadas de políticos ou doutores, que vivem da carniça do povo pobre. É a sociedade dos urubus, uma sociedade que fede, uma sociedade que, na realidade, sociedade não é, pois pra ser sociedade um povo precisa pelo menos se respeitar, ter dignidade. A “sociedade” dos urubus é o sistema da não vida, do costume de viver sem futuro, sem sonhos, entregando esta nobre atividade para um grupo de pessoas acostumadas a pisar sobre os direitos do povo com a maior cara de pau do mundo. Na “sociedade” dos urubus o tempo parece eterno porque é sempre a mesma coisa, porque não tem nada pra fazer. É só esperar a morte chegando e os urubus se aproximando. Na “sociedade” dos urubus o povo vale na medida que engorda pra depois morrer e servir como alimento dos urubus que pairam no ar na espera da refeição.   Problema: é possível sair da “Sociedade” dos urubus? É possível transformar a “sociedade” dos urubus em sociedade de gente? O que precisa fazer pra sair dessa?
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Texto do Padre Paolo Cugini, professor de Filosofia da Faculdade Arquidiocesana Católica de Feira de Santana e Pároco do município de Pintadas – Bahia

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